sábado, 25 de fevereiro de 2012

Usos e Costumes: Doutrinas de Deus ou dos Homens?


Thiago Lima Barros

A questão do comportamento cristão sofre um debate sem paralelo nos últimos duzentos e cinquenta anos. Nesse período, surgiram interpretações sem precedentes anteriores, que terminaram por se tornar majoritárias, ao mesmo tempo em que buscavam justificativas para seus entendimentos ao longo das Sagradas Escrituras. Refiro-me às chamadas doutrinas de usos e costumes, muito em voga principalmente no meio pentecostal histórico, do qual constituem um traço cultural bastante arraigado.

A cerveja do pai da reforma.
Até meados do século XVIII, questões como vestuário, uso do álcool, acesso à informação e à arte seculares, dentre outras, eram desconhecidas da igreja cristã. Mesmo porque o padrão de indumentária europeu era uniforme, as restrições à leitura se restringiam ao Index romanista.

Lutero fabricava sua própria cerveja (na verdade não ele, mas sua esposa Catarina), e Calvino recebia, como parte de seu salário anual em Genebra, sete tonéis de vinho. A igreja era doutrinada a usufruir de tudo com moderação, como produto da Graça de Deus, e não se deixar dominar por nenhuma delas.

Calvino é marca de cerveja européia.
Todavia, o início do movimento metodista nas Ilhas Britânicas veio acompanhado de uma reversão de tendência quanto a esses assuntos, a começar pela questão das bebidas alcoólicas. À época, com o advento da Revolução Industrial, as cidades não oferecem infraestrutura suficiente para atender às demandas da população que aflui do campo para trabalhar na indústria nascente, o que inclui a oferta de água potável. Bebidas destiladas e fermentadas passam a substituir a água. Porém, o ambiente de pobreza extrema em que viviam os operários propicia os excessos no uso de bebidas. A embriaguez se torna uma constante, e se transforma num problema social.

John Wesley foi o primeiro a se insurgir contra os excessos do álcool entre os crentes, e foi o primeiro a articular um movimento de proibição do seu uso. Em seus sermões, Wesley reprovava o uso não-medicinal de bebidas destiladas, como conhaque e uísque, e dizia que muitos destiladores que vendiam seus produtos indiscriminadamente não eram nada mais do que “envenenadores e assassinos amaldiçoados por Deus”. Porém, os Artigos de Religião de Wesley, adotados pela Igreja Metodista Episcopal nos Estados Unidos em 1784, admitiam em seu Artigo XVIII que o vinho é para ser usado na Ceia do Senhor, e preceituavam, no Artigo XIX, que ele deveria ser ministrado a todas as pessoas, e não apenas aos clérigos. Da mesma forma, as recomendações para pregadores metodistas indicam que eles deveriam escolher água como bebida comum e usar o vinho apenas como medicamento ou na Ceia.


 O Movimento de Temperança


J. Wesley, o precursor do movimento anti-alcool.
 No entanto, o pensamento metodista acerca do assunto era compartilhado por poucas pessoas, até a publicação de um folheto de autoria do médico Benjamin Rush, um dos signatários da Declaração de Independência norte-americana, que deblaterou contra o uso de “espíritos ardentes” (álcool destilado), introduziu a noção de vício e prescreveu a abstinência como única cura.

Apesar da adesão de alguns pregadores proeminentes, o movimento perdeu força durante a Guerra de Secessão, para mais tarde ressurgir por meio da União Feminina pela Temperança Cristã, e foi tão bem sucedido na realização dos seus objetivos que Catherine Booth, esposa do fundador do Exército da Salvação William Booth, observou, em 1879, que quase todos os ministros cristãos estadunidenses haviam se tornado abstêmios. O movimento, liderado por feministas conservadoras como Frances Willard, conseguiu a aprovação de leis anti-álcool em vários estados, e atingiu o seu zênite político em 1919, com a promulgação da Décima Oitava Emenda à Constituição dos Estados Unidos (Lei Seca), que estabeleceu a proibição da venda e consumo de álcool no país inteiro, revogada mais tarde, em 1933, pela Vigésima Primeira Emenda.

Francis Willard ajudou a "secar" os E.U.A.
Inicialmente se opondo apenas ao álcool destilado, a mensagem do movimento de temperança foi mais tarde alterada para defender sua eliminação total, especialmente na Ceia do Senhor. Tal posicionamento foi em grande medida influenciado pelo Segundo Grande Despertar, que enfatizava a santidade pessoal e o perfeccionismo na práxis cristã.

Os efeitos jurídicos e sociais resultantes do movimento, como visto, atingiram seu pico no início do século 20 e começaram a declinar logo depois. Os efeitos sobre a prática da igreja foram principalmente um fenômeno do protestantismo americano. O Pentecostalismo e as Restrições Consuetudinárias – Porém, no ambiente pentecostal, que sofreu, como (e do) Movimento de Temperança um influxo filosófico bastante forte do Movimento de Santidade, (o qual, por sua vez, é resultado direto do Segundo Grande Despertar), o proibicionismo, longe de arrefecer, foi adotado como cláusula pétrea. Afinal, ainda não havia bases teológicas de fundo mais intelectual: tudo era mais voltado ao experiencialismo da glossolalia e da cura divina, o que enfatizava ainda mais a tese de separação artificial do mundo e de suas coisas.

Mais tarde, porém, mesmo com o aprimoramento teológico dos ministros pentecostais, as mudanças de postura foram poucas, e meramente pontuais, fora a tolerância com abusos na rigidez das regras, mormente em locais menos desenvolvidos economicamente. Logo, para além da proibição da ingestão de álcool, surgiriam outras questões nas quais a resposta era uma só: proibido.

Ademais, tanto o pentecostalismo como o neo-pentecostalismo, juntamente com metodistas e grupos afiliados ou decorrentes destes, são os únicos grupos que elevaram tais restrições ao status de doutrina; se não na teoria, pelo menos na prática diária. Os demais ramos da cristandade protestante rechaçam esse tipo de associação, muito embora tambem tenham cometido esse tipo de excesso ao longo da história. Basta ver, nesse ponto, o que sofreram dois músicos cristãos: o alemão Johann Sebastian Bach, que foi obrigado a conter sua criatividade diante do estilo simplório de música imposto pela corte do príncipe calvinista Leopoldo de Anhalt-Köthen; e o brasileiro Luiz de Carvalho, que era anatematizado nos meios batistas por tocar... Violão!

O principe os púlpitos - Spurgeon era fumador de charutos e virou marca. Um outro momento cultural.


Usos e costumes no pentecostalismo brasileiro 

Otto Nelson
É com os pentecostais, mormente da Assembleia de Deus, que o proibicionismo do Movimento de Temperança deita suas raízes no Brasil. De início, essa influência não se dá de forma institucional: o debate sobre questões relativas à inserção do pentecostal no mundo, ao contrario do que alguns líderes querem fazer parecer, era intenso e muitas vezes descambava para o rompimento pessoal entre os pastores divergentes. Nessa fase (de 1930 a 1975), o tratamento dessas questões era eminentemente personalista: cada pastor decide acerca das regras comportamentais a serem seguidas pelo rebanho, e muitos o fazem de forma radical.

Foi o caso do presbitério da AD de São Cristóvão (fundada por Gunnar Vingren em 1924), o qual, n’O Mensageiro da Paz da primeira quinzena de julho de 1946, em decisão unilateral datada do dia 4 de junho, sob a presidência do missionário sueco Otto Nelson, estabeleceu regramentos draconianos sobre o vestuário e cortes de cabelo femininos.

Samuel Nyströn
A dureza da Resolução de São Cristóvão, como passou a ser conhecida, aliada à evidente misoginia que a perpassava, não deixaram de ser notadas na 8ª Reunião da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, realizada em Recife em fins de outubro do mesmo ano. Os convencionais exigiram a retratação da congregação carioca. Quase no apagar das luzes da rodada de reuniões, o Presidente da CGADB, o tambem missionário sueco Samuel Nyströn, faz publicar um texto intitulado “Dando lugar à operação do espírito”, no qual rechaça o zelo jacobino da Resolução. Não por acaso, Nyströn abre o artigo com a citação do capítulo 4, versículo 6, do livro de Zacarias: “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito diz o Senhor dos Exércitos”.

Com a refutação, veio a retratação da AD de São Cristóvão, em janeiro de 1947, e um silêncio de 16 anos acerca de questões consuetudinárias. Elas só voltam à baila em 1962, e de forma pontual. Essa tendência é revertida em 1975, com a publicação de uma resolução na 22ª reunião da CGADB, realizada em Santo André (SP), contendo oito restrições comportamentais, de observância obrigatória para os membros das AD’s. Eis a íntegra da mesma:

E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e separai-vos dos povos, para serdes meus (Lv 20.26).

A Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, reunida na cidade de Santo André, Estado de São Paulo, reafirma o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios estabelecidos como doutrinas na Palavra de Deus - a Bíblia Sagrada - e conservados como costumes desde o início desta obra no Brasil. Imbuída sempre dos mais altos propósitos, ela, a Convenção Geral, deliberou pela votação unânime dos delegados das igrejas da mesma fé e ordem em nosso país, que as mesmas igrejas se abstenham do seguinte:

1. Uso de cabelos crescidos, pelos membros do sexo masculino; 
2. Uso de traje masculino, por parte dos membros ou congregados, do sexo feminino;
3. Uso de pinturas nos olhos, unhas e outros órgãos da face; 
4. Corte de cabelos, por parte das irmãs (membros ou congregados);
5. Sobrancelhas alteradas;
6. Uso de mini-saias e outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã;
7. Uso de aparelho de televisão – convindo abster-se, tendo em vista a má qualidade da maioria dos seus programas; abstenção essa que justifica, inclusive, por conduzir a eventuais problemas de saúde;
 8. Uso de bebidas alcoólicas.


Geziel Gomes
Um detalhe interessante: a resolução acima foi lida na Convenção pelo pastor Geziel Nunes Gomes, a pedido do presidente da CGADB à época, pr. Túlio Barros Ferreira, coincidentemente (ou não) responsável pela AD de São Cristóvão. Ambos se desfiliaram da AD anos mais tarde, aderindo às doutrinas heréticas da Confissão Positiva e do G-12.

Daí por diante, a tendência é de recrudescimento dessa postura até 1999, quando, por ocasião do 5º Encontro de Líderes da Assembleia de Deus (ELAD), ocorre uma espécie de aggiornamento assembleiano: sem abrir mão do positivismo exacerbado de Santo André, tenta-se contextualizar as exigências mais como recomendação do que como decálogo (ou octólogo) denominacional. Mas mesmo esse documento padece de um certo “complexo de Gabriela”, numa indisfarçável demonstração de soberba denominacional:

Quando afirmamos que temos as nossas tradições, não estamos com isso dizendo que os nossos usos e costumes tenham a mesma autoridade da Palavra de Deus, mas que são bons costumes que devem ser respeitados por questão de identidade de nossa igreja. Temos quase 90 anos, somos um povo que tem história, identidade definida, e acima de tudo, nossos costumes sãos saudáveis. Deus nos trouxe até aqui da maneira que nós somos e assim, cremos, que sem dúvida alguma ele nos levará até ao fim.

Conclusão 


Nas faculdades de Direito, estudamos que o costume é um dos vários meios de integração do ordenamento jurídico, utilizados em virtude do caráter genérico dos textos legais, que não raro apresentam lacunas. Ele deriva da prática reiterada de dado comportamento, devido à convicção sobre sua obrigatoriedade (a qual, se violada, acarretaria alguma sanção), e seu uso deve ser uniforme, constante, público e geral.


Túlio Barros
No entanto, a história dos avivamentos pelos quais a Igreja Cristã passou a partir do século XVIII, malgrado seus benefícios espirituais, teológicos, éticos e sociais, trouxe um grave efeito colateral para essa mesma Igreja: uma prática de usos e costumes nascida não da convicção do corpo iluminado pelo Espírito Santo, como deveria ser, mas do tacão dos líderes. Embora siga uma linha pentecostal clássica, seja neto de assembleianos por parte de pai e creia que a conduta cristã deva ser diferenciada da que é corrente no mundo, creio que essa jurisprudência deve ser escrita nas tábuas do coração, e não imposta de maneira bonapartista pela liderança, por mais bem-intencionada que esta seja.

Nenhum cristão realmente nascido de novo em Cristo, em sua saníssima consciência, vai defender a libertinagem, vestimentas indecorosas, embriaguez, enfim, uma postura de evidente mundanismo. Precisamos, de fato, ser santos como o Nosso Senhor o é. O problema é que, no afã de vivenciar essa santidade, houve um retorno inconsciente ao legalismo mosaico e aos seus rudimentos fracos, e o bebê foi jogado fora junto com a água do banho. Ou seja, a fruição dos bens dados pelo Senhor ao ser humano (quem lê, entenda) foi relegada, em alguns casos, a uma condição de conduta pecaminosa, mesmo que não ofenda as Escrituras em momento algum.

 Cuidados com o corpo e o vestuário são pecado? Jamais! Antes, evidenciam o cuidado que temos com o templo do Espírito Santo: nosso corpo. Sem extravagâncias, mas com elegância. E o vinho, não alegra o coração do homem (Sl. 104:15)? E, da mesma forma, a embriaguez é condenada (Pv. 20:1). Sem contar que o mau uso que se faz dos meios de comunicação não os torna invenções de Satanás. Afinal, se a televisão não podia sequer entrar nos lares dos crentes, como os herdeiros dos que contra ela verberavam hoje dela se valem? Enfim, os lineamentos para o usufruto das dádivas de Deus são explícitos na Bíblia: basta segui-los, pois todas as coisas nos são lícitas, mas não nos deixamos dominar por nenhuma delas (I Co. 6:12). Encerro rememorando o rasgo de sensatez que o Nosso Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo bafejou no coração do pastor Samuel Nyströn, por ocasião do debate acerca da Resolução de São Cristóvão, no gracioso libelo “Dando lugar à operação do espírito”, orando ardentemente para que todos os cristãos, lideres principalmente, façam dessas palavras sua prática diuturna de vida:

Em qualquer tempo, lugar ou circunstância, devemos lembrar-nos que não se consegue fazer a obra do Senhor por força nem por meios violentos, resoluções ou imposições, mas a obra do Senhor se realiza pela intervenção criativa de Deus e pela lei do crescimento externo da obra do Senhor, mas igualmente quando se tratar do crescimento interno desta, tanto individual como coletivamente.

Mesmo durante a Dispensação da Lei, a Lei não conseguiu outra coisa senão descobrir e pôr o pecado em atividade, tendo como resultado a morte (...) enquanto a fé não tinha vindo, a Lei teve um alvo como pedagogo: conduzir homens a Cristo. Mas, tendo vindo a fé, não estamos mais debaixo do pedagogo (a Lei), e nem devemos fazer ressuscitar leis ou inventar outras leis para que não fiquemos no lugar dos gálatas, que foram chamados insensatos e a respeito dos quais Paulo temia que todo o seu trabalho se tornasse vão (...) Cristo veio com a graça e, então, a Dispensação da Lei se encerrou. Em lugar do mandamento prévio. que foi ab-rogado por sua fraqueza e inutilidade, pois 'a Lei nada fez perfeito', foi introduzida uma melhor esperança, pela qual nos chegamos a Deus: Cristo, que é nosso Sacerdote, segundo o poder de uma vida indissolúvel (...) Portanto, o que realmente tem valor para nós é ‘a fé que opera por amor’, por isso não nos justificamos pela Lei ou leis, para não sermos decaídos da graça e separados de Cristo (Gl 5.6).

As ordenanças para manifestar humildade e servidade com o corpo servem para satisfazer a carne, o erro, e elas com facilidade arranjam os que se julgam mais santos do que outros, e isto resulta em inchação vã e cria espírito de fariseu, que é o maior impedimento para as bênçãos de Deus.

Há muitos países e muitas formas de se trajar neste mundo, bem como muitos climas diferentes, e tudo isto deve ser considerado, mas como a Palavra de Deus diz: ‘com modéstia e sobriedade’. O que a Escritura ensina em relação a este assunto é que as mulheres devem ser castas e tementes a Deus, tanto as que são casadas como as moças (...) lembremo-nos também que há muitas outras coisas que são igualmente perigosas para a obra do Senhor, que só pelo Espírito Santo poderão ser removidas, como o amor ao dinheiro (...) o homem ostentado justiça própria, criticando tudo e todos, é um indivíduo perigoso para o avanço da unidade da obra do Senhor.






      Fontes:

  • Christian views on alcohol
  •  Woman's Christian Temperance Union
  •  FONSECA, André Dioney. São Cristóvão e Santo André: os debates sobre a normatização dos usos e costumes nas convenções gerais das Assembléias de Deus no Brasil (1930-1980) Juiz de Fora: Sacrilegens (Revista dos Alunos do Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião - UFJF), v. 6, nº 1, p.41-59. Tb. Disponível em http://www.ufjf.br/sacrilegens/files/2010/04/6-5.pdf


VIA

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O dirigente e a solidão do poder

Quando enfrentamos um problema e não temos ninguém para dividir nossas incertezas, o problema assume proporções irreais

Ernest Hemingway foi um dos maiores escritores do séc XX. Dentre suas obras monumentais, “Por quem os sinos dobram” tem seu lugar garantido na literatura mundial. Virou peça de teatro, filme com Ingrid Bergman e foi o livro de cabeceira de toda uma geração pós-guerra.

Ironicamente, a passagem mais conhecida do livro não é de Hemingway. O famoso parágrafo de abertura é de John Donne, escrito algumas décadas antes: “Nenhum homem é uma ilha. A Europa é um continente. Quando algum torrão de terra se desprende, a Europa fica menor. Do mesmo modo, quando algum homem morre, me sinto diminuído, porque faço parte do continente da raça humana. (…) Por isso, não me pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por você.”

Esse trecho sempre me vem à memória quando converso com dirigentes de empresas e ouço deles um desabafo recorrente: a solidão do poder.

Não importa se ele tem dezenas, centenas ou milhares de pessoas sob o seu comando. Muitas vezes ele se vê só em suas decisões, com o peso do mundo sob suas costas, como um Atlas mitológico de gravata.

E, como todos sabemos, quando enfrentamos um problema e não temos ninguém para dividir nossas incertezas, o problema assume proporções irreais, assim como a sombra de um objeto que se agiganta na parede quando o aproximamos de um foco de luz.

Por que essa solidão ocorre com tanta freqüência? Na minha opinião é porque, internamente, esse dirigente não consegue ouvir opiniões isentas. Quando reúne a diretoria ou uma equipe para discutir questões agudas, encontra, geralmente, advogados em causa própria. Afinal, para eles, mais importante do que confrontar idéias é não correr o risco de perder influência e prestígio.

Então, o problema reside na diretoria ou no staff? Absolutamente em nenhum dos dois. A origem está na maneira como as estruturas hierárquicas são construídas. O problema está no sistema e não nas pessoas. Afinal, bajular é uma instituição culturalmente aceita e politicamente tolerada por muitos que chegam ao poder.

O sistema não ajuda a equipe a ter uma visão do todo, a se sentir parte integrante do continente, a ter consciência do seu papel e da sua importância na estrutura. Todos se sentem torrões de terra dispensáveis, que a qualquer momento podem ser desprendidos. Por isso, se agarram fortemente aos seus cargos no primeiro tremor de terra de uma reunião com a direção da empresa.

O conselho que sempre dou a esse dirigente é que estimule as opiniões e promova o confronto saudável de idéias. É bem provável que você esteja comandando um grupo vencedor que só precisa de espaço para se expressar, sem medo. Para que você também possa cobrar resultados de forma mais eficiente.

Lembre-se que o líder não é aquele que dá ordens, mas aquele que desperta iniciativas e forma outros líderes.

O que estou propondo não é fácil. É um processo que exige desprendimento, porque vai expor as falhas da estrutura e talvez, dos próprios dirigentes.

Mas vale a pena.

Faça isso e as sombras do medo e da insegurança desaparecerão.

Denis Mello

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Antes de decretar a falência do Carnaval...


Antes de decretar a falência do Carnaval… deveríamos, como cristãos que somos, trabalhar pelo fim da comercialização da fé, pois a mesma, além de entristecer o coração de Deus, compromete nosso testemunho perante o mundo. Como podemos julgar o mundo, se não somos capazes de julgar a nós mesmos?

Antes de decretar a falência do Carnaval…. deveríamos julgar a nós mesmos, removendo de nossos rostos as máscaras da hipocrisia religiosa, expondo-nos, assim, à verdadeira transformação empreendida pelo Espírito Santo. Afinal, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Liberdade, sim. Não pra pecar. Mas pra ser transformado sem viver sob pressão de quem quer que seja. Liberdade de ser quem somos, sabendo que ninguém nos condenará. O Espírito só opera em nós quando temos o rosto descoberto...

Antes de decretar a falência do Carnaval… deveríamos tirar o chapéu para o trabalho social desempenhado por algumas escolas de samba em suas comunidades. Não fosse nosso corporativismo evangélico, poderíamos até aliar-nos a elas nesse esplêndido trabalho. O que não significa que endossemos tudo quanto é promovido por elas. Porém, não se pode jogar fora a criança com a água suja do banho.

Antes de decretar a falência do Carnaval… deveríamos corar de vergonha ante o nível de excelência alcançado nas apresentações das escolas, com samba-enredos bem elaborados, carros alegóricos exuberantes, organização impecável, etc. Enquanto nós, que nos achamos no direito de apontar-lhes o dedo, nos acomodamos à mediocridade. Basta ouvir as canções de louvor atuais para perceber a pobreza lírica e melódica, fruto de nossa preguiça e desleixo. Sem contar que nossa arte ‘gospel’ fica restrita à música, como se Deus tivesse alguma coisa contra outras expressões artísticas.

Antes de decretar a falência do Carnaval… deveríamos amar os foliões, compreendendo que aquela alegria ilusória é tudo o que eles possuem. Em vez de condená-los, que tal se compartilhássemos com eles a nossa alegria perene? Eles certamente perderiam qualquer interesse por algo que fosse menos que isso. A maneira como nos referimos a eles e à sua festa, faz com que sejamos vistos como gente estraga-prazer. Duvido que no lugar de Jesus nos dispuséssemos a transformar água em vinho só pra que a festa não terminasse tão cedo. Talvez entendêssemos melhor o que diz Provérbios 31:6-7, mas sem perder de vista o seu contexto imediato.

Antes de decretar a falência do Carnaval…. decretemos a falência da nossa arrogância, de nossa presunção, de nossa religiosidade midiática, e de nosso egoísmo. Que prevaleça o amor, a humildade e o serviço ao nosso semelhante, mesmo quando este estiver atrás de uma fantasia, ou despudoradamente despido.

O que estão fazendo com o dízimo das pessoas?!

É espantoso como que os líderes de diversas instituições evangélicas (geralmente pentecostais ou neo-pentecostais), dentre os quais alguns chegam a se intitular até “apóstolos”, têm distorcido o instituto bíblico do dízimo. Muitos desses homens enganadores fazem constantes citações descontextualizadas do livro do profeta Malaquias, induzindo as pessoas em erro e dando uma destinação equivocada às ofertas por eles arrecadadas.


Antes de mais nada, entendo ser necessário situar a origem do dízimo e a sua finalidade, o qual é tratado inicialmente na Torá judaica (os cinco primeiros livros da Bíblia). Mencionado vagamente em Gênesis, na passagem em que o patriarca Abraão oferta o seu dízimo a Melquisedeque, rei-sacerdote de Salém (Gn 14.20), bem como no voto tomado por Jacó (Gn 28.22), será em Levítico, Números e Deuteronômio que o instituto surge como uma contribuição obrigatória para os israelitas dentro do judaísmo. E um dos textos que melhor expressa a ideia de sua institucionalização seria este:

Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano se recolher no campo. E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o SENHOR, teu Deus, todos os dias. Quando o caminho te for comprido demais, que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR, teu Deus, te tiver abençoado, então, vende-os, e leva o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher. Esse dinheiro, dá-lo-ás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, ou por ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer coisa que pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR, teu Deus, e te alegrarás, tu e tua casa; porém, não desampararás o levita que está dentro da tua cidade, pois não tem parte nem herança contigo. Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua cidade. Então, virão o levita (pois não tem parte e nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem.” (Dt 14.22-29; ARA)

Uma das primeiras observações que precisam ser feitas em relação a esta passagem bíblica é que os dízimos deveriam ser trazidos ao Templo judaico, o qual era considerado como o "lugar" escolhido por Deus para colocar o seu Nome e receber o culto prestado pelos israelitas.

Vivendo numa economia baseada na agropecuária, os israelitas de 3.000 anos atrás deveriam ofertar os bens da terra e as crias do rebanho, quando viessem ao Templo adorar a Deus. E este comparecimento acontecia durante as três festas obrigatórias para aquele povo (Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos). Então, aqueles que moravam em cidades e aldeias mais distantes de Jerusalém, onde se situava o Templo, podiam vender os seus animais e, com o dinheiro, efetuarem o pagamento ou comprarem as ofertas (os animais) quando chegassem ao local.

Embora parte das ofertas pertencesse aos sacerdotes do Templo (ver Números 18), pode-se ler no texto citado acima que também havia uma porção destinada ao ofertante, o qual poderia comer do sacrifício em comunhão com os outros adoradores, numa verdadeira celebração pelas bênçãos recebidas (lembrando a provisão alimentícia de Deus). E, naquelas ocasiões, todos se alegravam juntos. Não só o ofertante e o sacerdote comiam, como o levita e o pobre que, raramente, poderia se dar ao luxo de comer carne em suas refeições diárias.

Por sua vez, eis que, a cada três anos, os dízimos eram destinados ao sustento dos levitas que moravam nas respectivas cidades, bem como aos grupos sociais em risco, os quais o texto menciona como sendo o estrangeiro peregrino, o órfão e a viúva. Assim, as pessoas que se encontravam impossibilitadas de trabalhar (ou que não tinham uma terra para cultivar a exemplo dos levitas) seriam alimentadas através da contribuição compulsória dos dízimos, funcionando como um verdadeiro imposto vinculado à provisão dos necessitados.

Acontece que não é isto que tem sido praticado nas igrejas evangélicas que cobram o dízimo de seus membros!

Pois, além de não terem mais a justificativa de existência física de um lugar central de adoração no planeta (a festejada citação de Malaquias 3.6-11 refere-se a um compartimento do Templo judaico quando fala na "casa do Tesouro"), deve-se observar a ausência (ou a insuficiência) de tais "igrejas" quanto às obras sociais. Principalmente quando encontramos dentre os seus membros pessoas necessitadas e que são devoradas vergonhosamente pelos seus líderes.

Distantes do propósito do dízimo estabelecido na Torá e também das práticas sociais adotadas pela Igreja Primitiva de Jerusalém (ler Atos dos Apóstolos 2.44-46; 4.34-37), esses lobos que se dizem pastores usam as contribuições em benefício próprio e colocam as suas instituições religiosas acima das necessidades das pessoas. E, nestas "igrejas", a construção de novos prédios acaba vindo em primeiro lugar do que a solução dos problemas daqueles irmãos que sofrem com o desemprego, têm problemas de saúde e ou mal conseguem pagar suas contas por causa do alto custo de vida nas cidades brasileiras. Pois, se algum pobre precisar de um tratamento médico, tais líderes são incapazes de mobilizar a comunidade para conseguir recursos, limitando-se quase sempre a fazer orações pedindo cura.

Para agravar mais ainda a situação, o dízimo ainda é apresentado ao povo como um instrumento de barganha com Deus em constantes referências ao verso 10 de Malaquias 3, o qual assim diz:

"Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida". (ARA)

Ora, ao atribuírem o recebimento de bênçãos ao ato do ofertante contribuir com o dízimo, tais pregadores deturpam o propósito principiológico do texto bíblico e adulteram o Evangelho da Graça e a ideia do favor imerecido porque buscam estabelecer como condição o pagamento de um tributo a Deus.

E o que seria entender o dízimo como algo principiológico?

A meu sentir, esta seria a correta visão. Isto porque, sendo o dízimo destinado a promover uma inclusão social, obviamente que passaria a haver mais riquezas sendo distribuídas e circulando na sociedade. E, com a eliminação da miséria pela cobertura das situações de risco, o povo israelita experimentaria uma melhor qualidade baseada na justiça social.

Conclui-se que, atualmente, os dízimos cobrados pelas inúmeras igrejas evangélicas deste país em nada tem a ver com aquilo que a Bíblia prescreveu. Seja pela inexistência do Templo judaico como pela destinação dos recursos arrecadados que não são corretamente direcionados para a satisfação da necessidade dos irmãos carentes. Pois, mesmo quando essas instituições apresentam projetos na área social, fazem isto mais por jogada de marketing do que com o objetivo de melhorar a condição dos membros mais frágeis da congregação.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Macedo versus Valdemiro


Edir Macedo acaba de postar no YouTube um vídeo que vai gerar muita polêmica comValdemiro Santiago, o seu maior adversário no meio evangélico. Valdemiro deixou a Universal há anos. Desde então, carrega vários pastores da igreja de Macedo – e, mais importante, tem roubado  milhares de fiéis da concorrente.
Na imagem, Macedo aparece exorcizando uma mulher supostamente possuída pelo diabo. No diálogo, o “demônio” afirma ser da Igreja Mundial de Valdemiro e solta o verbo:
- Valdemiro é meu servo (…). Todos que estão lá dentro estão no pecado; se prostituindo; fumando. Muitas mulheres estão destruídas, (…) os homens traindo as mulheres.
Macedo, portanto,  mostrou que sentiu o golpe e partiu para o confronto direto contra o concorrente. A briga promete.
Por Lauro Jardim

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Igreja: JUNTAR ou DIVIDIR?

Enquanto muitas igrejas fazem de tudo para atrair as pessoas, usando até de heresias como a Teologia da Prosperidade, outras já parecem ser uma sociedade secreta, cheias de regras e costumes.
Fico me perguntando onde colocaram o AMOR, o que fizeram da COMPAIXÃO, e o PERDÃO já é coisa passada.
É lamentável...

É lamentável você ser julgado espiritual ou não pela roupa que você veste.
É lamentável medirem seu grau de compromisso com Deus por querer ou não fazer parte de um grupo de louvor.
É lamentável saber que o mais importante é o que você tem e faz na Igreja e não o que você é...
É lamentável ser rejeitado por pensar diferente ou mesmo discordar do erro.
É lamentável ver que quem deveria está unindo e compreendendo as pessoas, está julgando e excluindo. 
É lamentável...

O Cristianismo que quero continuar acreditando é o que une, ama, ajuda, ouve, abraça e compreende. Não consigo viver esse "Cristianismo" de hipocrisia e de falatórios. Não consigo sorrir para o erro, não consigo mais engolir tanta coisa, algumas é preciso rejeitar antes de provar. Não consigo mais dançar esta melodia desafinada. Já não consigo seguir os mesmos passos da dança! 
Meus olhos foram abertos...

Não consigo concordar com pessoas influenciáveis e sem domínio próprio, que seguem o pensamento dos outros ou do mais forte, mesmo que sejam contrários ao Evangelho. Não consigo seguir as regras impostas por essas pessoas, que não pensam por si só, que não formulam uma opinião, vão sempre pela cabeça dos seus "líderes".

É preciso remover as máscaras, é preciso ser quem realmente é... 
Mas graças a Deus que nada do que está encoberto ficará para sempre e Deus que sonda nossos corações, Ele que nos conhece como ninguém, julgará nossa causa! E somente ele pode dá o veredito, mesmo que muitos tenham dado a palavra final.

No Cristianismo você obedece por que foi aceito, na Igreja você foi aceito por que obedeceu.Ainda é preciso PENSAR, mesmo que isso lhe custe caro e lhe custe rejeição.
Creia, mas pense!

Só a Deus, a Glória!

Wilton Lima
FONTE

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Nos bastidores de uma igreja herege

Muito se fala sobre os pastores hereges. Mas o que pouco se fala é o que acontece com os membros das igrejas dos pastores hereges. Você já parou para pensar de que modo frequentar uma igreja em que os pastores pregam Teologia da Prosperidade, Confissão Positiva, Teologia Liberal, Ética Transacional Ascendente, Universalismo, Teísmo Aberto e outras heresias que estão na moda no século 21 pode afetar alguém? Um episódio ocorrido recentemente com uma pessoa conhecida minha revela de forma bastante prática o que pode se suceder a um ser humano que tem como seu líder espiritual alguém que se desviou da sã doutrina e, consequentemente, dos caminhos do Senhor.

No caso, tratava-se de uma jovem, que frequentava a igreja de um dos pastores mais conhecidos do país, que durante muitos anos foi extremamente bíblico, mas que de uns tempos para cá começou a criar umas teologias e a confessar umas crenças tão bizarras que chegou a ser demitido de uma revista onde tinha uma coluna há anos, perdeu montes de membros e caiu no descrédito entre os setores mais sérios da Igreja. Como ele mesmo se intitulou, é o “herege da vez”. Criou uma filosofia esdrúxula, chamada Teologia Relacional, que defende que Deus abriu mão do controle absoluto sobre o mundo e, portanto, as tragédias que ocorrem não estariam sob sua soberania. Em outras palavras, esse pastor, que parece ler mais Vinícius de Moraes do que a Bíblia, roubou do Criador do universo a sua soberania e sua onipotência. E, com isso, tornou-se um heresiarca.
Pois bem, essa minha pessoa amiga (a quem vou chamar de Sílvia para preservar sua identidade) frequentou alguns anos atrás a igreja desse pastor, em São Paulo, na época em que ele ainda seguia a Bíblia. Mudou-se de cidade e passou a frequentar outra igreja. Recentemente conheceu por acaso alguém que era seguidora desse pastor que se tornou herege – a quem chamaremos de Luciana, um nome fictício. Se conheceram num restaurante, apresentadas por amigos, mas Sílvia logo ficou chocada, pois a “cristã” Luciana “estava falando uma dúzia de palavrões e falando de encher a cara”, como me relatou.
Começaram a conversar, descobriram vários conhecidos em comum e, na volta pra casa, pegaram o mesmo transporte público. Sílvia estava interessada em fazer amizade com Luciana, afinal, como me contou, “ela era a pessoa que mais tinha chance ali naquele meio de ter alguma coisa em comum comigo!”. Foi quando ela fez uma única pergunta que, relatou-me, “desencadeou um discurso todo que me fez muito mal”. Ela simplesmente perguntou se Luciana costumava ir todos os domingos à igreja do tal pastor. A resposta dela foi:
“Não muito… prefiro ir aos cultos durante a semana. Não gosto muito do culto de domingo, sabe? Aquela coisa toda no final da mensagem, aquele apelo… acho nada a ver!! Prefiro ouvir a mensagem do Pastor Fulano pela internet. Aí já não vem com aquela parte do apelo e tals, só a mensagem mesmo!”. Bom, até aí podemos dizer que o dano era leve. Essa jovem simplesmente não gostava de participar dos cultos, preferia só ouvir as mensagens. Errado, mas não chega a mandar ninguém para o inferno.
Só que aí Luciana disparou a pérola: “Ouvi uma vez um pastor dizendo que se não andamos exatamente do jeito como Cristo quer estamos a caminho das trevas. Muito radical isso!! Até acho que quando a gente faz uma coisa errada ali ou aqui nós estamos mais sujeitos a errar mais, mas isso não quer dizer que vou ser condenado por isso, não é!?”
As palavras de Silvia diante disso, conforme me disse, foram: “Eu não sabia nem o que responder. Entrei em estado de choque. Comecei a me desesperar e pensei comigo mesma: ‘meu Deus, como eu posso ajudar essa pessoa?!’”. Só que a coisa não parou por aí. A discípula do herege continuou: “É por isso que eu gosto da igreja X. Eu vou pra lá e ninguém me cobra nada. É uma igreja que não faz a gente se sentir culpado, sabe? Eu gosto de coisa mais racional, acho que quando começa a entrar demais no lado emotivo da coisa já não fica legal. Meu namorado, por outro lado, gosta dessa coisa mais emotiva, fervorosa. Ele gosta da igreja Y… Cada um tem seu gosto, né?’
Silvia me disse que sentiu uma dor profunda no coração. Ela percebeu que aquela jovem via igreja como uma mercadoria. Continuou me contando: “Eu estava ali, diante de uma alma que se acha salva, mas completamente perdida no mundo” e ficou pensando no quanto a Igreja de Cristo carece de bons líderes que venham discipular seus fiéis, que venham a alertá-los sobre os males da vida e de como devemos lidar com o mal que vive em nós.
“Me frustrei muito por saber que ela é uma ovelha de uma igreja à qual já pertenci. Sei que o Pastor Fulano tem se perdido muito, pregando heresias e queimando o seu filme não só com pessoas que o admiravam, mas principalmente com Deus!” E então soltou a frase que eu achei emblemática: “Ele era um gênio que se perdeu na sua inteligência”.
Foi quando me relatou que esse tal pastor, que tem atualmente mais de 26 mil seguidores no twitter (o que penso ser uma influência extremamente temerária), sempre teve uma tendência a entrar em méritos mais filosóficos na Bíblia. “Lembro que suas pregações eram longas. Conseguia extrair de um versículo só coisas que nunca teriam passado pela minha cabeça. Na época em que frequentávamos a igreja que ele lidera, eu apreciava muito a sua pregação. Eu tinha apenas 11 anos, mas gostava de ouvi-lo pregar”.
Foi quando Silvia, em suas reflexões comigo, fez a pergunta que, em minha opinião, resume tudo: “Fiquei pensando: quantos pastores como ele têm deixado de pregar coisas que realmente façam um efeito bom em nossas vidas?”. Ah, Silvia, eis a questão! Esse é o grande mal de frequentar ou dar ouvidos a um pastor que fala de amor, de poesia, de coisas lindas… mas prega heresias. O que, aliás, os espíritas também fazem. Ou os budistas. Ou os hindus. O grande mal é que o efeito de suas pregações no sentido de nos aproximar do Cristo da Bíblia é nulo. Nos aproximam de um cristo. Mas que não é o da Bíblia. É um ídolo de gesso, poético e bondoso, mas sem vida e sem capacidade de conceder vida eterna.
Sílvia terminou seu relato com um lamento. “Ouvir de alguém que ‘gosta de frequentar tal igreja porque ali ela não se sente culpada’ foi muito triste”. Mas há uma explicação para isso, Silvia: naquela igreja não se prega o Evangelho de Jesus Cristo. Pois a verdadeira mensagem da Cruz conduz o pecador ao arrependimento. Que faz sim quem cometeu um delito desenvolver um sentimento de culpa que só pode ser apagado mediante a graça de Deus e o verdadeiro arrependimento. Mas em algumas igrejas só se prega amor… ou prosperidade… ou qualquer outra coisa que não conduza o pecador a se arrepender de sua miséria. O destino eterno dos tais certamente não é ao lado do Senhor – e quem diz isso não sou eu, é a Bíblia.
Silvia ainda tentou falar para a jovem sobre a igreja que frequentou por seis anos após deixar a membresia do pastor que virou herege, igreja essa onde há ênfase no estudo da Palavra. Disse a Luciana como fazer parte daquela família de fé nos cultos, mas também participando do ministério, servindo a Deus, a transformou. “Mas ela não deu a mínima….soltou um ‘ahn..legal!’”. Meu irmão, minha irmã, isso é o que ocorre se você frequenta uma igreja onde o que é pregado é Fernando Pessoa, Vinicius de Morais, Mamom, Gandhi, Platão, Sócrates, Descartes ou qualquer outro que não o Nosso Senhor e Salvador Todo-Poderoso Jesus Cristo: Ahn…legal. E só.
Terminei de ouvir o relato de Silvia triste. Muitas vezes somos criticados por criticar esses homens e essas mulheres que lideram centenas, que transmitem suas filosofias lindas mas apócrifas para milhares de seguidores nas redes sociais, para milhares de telespectadores na TV ou pela rádio, ou que simplesmentesobem num púlpito para disseminar fogo estranho. Mas é quando ouvimos um relato desses que ganhamos ímpeto de escrever mais um post no blog, publicar mais um livro que ensine a sã doutrina, pregar com mais ênfase sobre as verdades do Reino de Deus, dar aulas mais profundas sobre a fé. Pois dói. Dói ver gente ser enganada e pessimamente discipulada. Sílvia terminou seu relato compartilhando minha dor: “Parece que dói mais saber de pessoas assim do que aquelas que refutam Cristo como Salvador. Perdidos que se acham salvos..”.
É isso: nos bastidores de uma igreja herege, onde “ninguém cobra nada, que não faz a gente se sentir culpado”, você vai encontrar legiões e mais legiões de perdidos que se acham salvos. E aí, no dia em que chegarem diante do trono do Rei dos Reis para prestar contas,  creio que, por terem seguido um falso cristo, ouvirão: “Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade, pois nunca vos conheci”. E o que elas saberão responder será apenas: “Ahn…legal”.

Mauricio Zagári